quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O problema é que encontrei, nos seus olhos, o meu lar.
O problema é que eu, sem-teto em busca de colchão macio e cobertor pra me aquecer o sonho,
encontrei o meu canto.
Meu canto é você. Meu lar é você.
Meu quarto com luz solar desmaiada por cortinas brancas e com cheiro de uma flor
qualquer que eu sei que gosto, mas não imagino o nome, é você.
Minha mesa posta no fim do dia com café com leite, pão quentinho e manteiga
nem congelada e nem mole de pingar, é você.
Meu jantar na cama e meu doce de leite lambido na colher e minha coca-cola na madrugada é você.
Você tem cheiro de manhã de chuva depois de uma noite enchendo a cara de alegria ao som de música em forma de suor.
Você tem cheiro de travesseiro com penas de gansos albinos do sul da Finlândia.
Você tem cheiro de toalha felpuda. Você tem cheiro de abraço de polvo. Você tem
cheiro de sorriso de bom dia e beijo com gosto de pasta de dente.
Você, à distancia, é o conforto da chegada.
Você, de perto, é a alegria da chave girando e abrindo a porta.
Você, do alto, é telhado laranja e chaminé de desenho animado.
Você, de baixo, é o porto seguro contra os trovões do lado de fora.
O problema é que encontrei, nos seus olhos, a casa que eu sonhei.
O problema é que encontrei, nos seus olhos, as janelas que sempre procurei.
O problema é que encontrei nos seus olhos, a cor exata das paredes da sala e
os tapetes macios e o sofá branco em semicírculo que sempre acreditei que,
um dia, ia ter só pra mim.
Você tem gosto de casa própria com registro no cartorio.
Você tem gosto de quadros coloridos pendurados no banheiro.
Você tem gosto de riso de criança ao longe em tarde calorenta de domingo.
Você tem gosto de samambaia na varanda e carro simples na garagem e passagens marcadas para férias em Paris.
O problema, darling, é que encontrei, nos seus olhos, o meu lar.
E, agora, acho que temos outro problema: onde é que vou morar?
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In Coisas de amor Largadas na Noite, A. Gonçalves

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